Foi na quarta-feira, e ainda há quem tenha a boca a arder. O Dia Internacional do Picante celebra-se a 16 de janeiro, mas todos os dias são bons para surpreender o paladar, para dar um sabor extra à comida e para descobrir novas combinações à mesa. Com um pouco de história à mistura, q.b., claro.
Originária da América do Sul e Central, a cultura da pimenta tem mais de seis mil anos. Historicamente, aponta-se que tenha sido a primeira ou uma das primeiras plantas que foram alvo de domesticação por parte do homem. Nos Estados Unidos, as pimentas são cultivadas desde o século XVII. Em Angola, Moçambique e Portugal aos frutos menores chama-se piripíri, e aos maiores, malagueta. A designação malagueta era já dada, antes da chegada dos europeus à América, em 1492, a uma especiaria picante da África Ocidental chamada pimenta-da-guiné. A qualidade picante de certas variedades de Capsicum (género de plantas herbáceas cujos frutos mais conhecidos são as variedades doces — pimentos ou pimentões —, e as variedades picantes — as pimentas) haverá levado os europeus a batizá-las malagueta. Cristóvão Colombo foi o primeiro europeu a encontrar a pimenta, em 1493, na segunda viagem à América. A sua utilização espalha-se depois por todo o planeta, servindo como tempero para várias tradições culinárias, sobretudo na Ásia e na América Latina.
Em Portugal, há um prato que se destaca no guia das melhores comidas picantes do mundo — o pica-pau. Com o título “The World’s Best Spicy Food – Where to Find It & How to Make It”, lançado pela Lonely Planet, em 2014, uma das maiores editoras de publicações sobre viagens a nível internacional, o livro explora os 100 melhores pratos a provar para aqueles cujo lema é “quanto mais picante melhor”.
VIAGEM PELOS SABORES
Picante, hot ou spicy. Use o termo que usar, na hora de ir visitar algum destes países, prepare-se para uma gastronomia que encontra nos temperos ‘quentes’ os maiores aliados. A cultura mexicana tem nos seus ingredientes clássicos milho, feijão, abóbora e pimentão. Em geral, os pratos são picantes, temperados com alho e pimenta, em especial a pimenta-chili. Mas há uma que é extremamente picante: a pimenta habanero, proveniente do México. O seu sabor é frutado, com notas de citrinos e um aroma floral característico.
Viajamos até aos Estados Unidos da América e podemos encontrar os famosos “Buffalo wings”, as asinhas de galinha fritas e envoltas num molho apimentado, inventadas em Buffalo, no extremo norte do estado de Nova Iorque, perto da fronteira com o Canadá. Seguimos até à Tailândia. Pedir o “Pad thai” é um dos pratos obrigatórios para quem gosta de picante, tendo como base noodles salteados com soja, carne, camarões, tofu, vegetais e muitas vezes amendoim. Outra dica é “Guay jub”, sopa que tem como base os noodles de arroz, tofu, carne de porco e ovos cozidos, herança chinesa na Tailândia. Mais uma opção? Experimente o “Tom yum kung”, sopa de camarões picantes e leite de coco. E não esqueça um produto que encontra também à venda em Portugal, o molho de pimenta sriracha.
A culinária indiana apresenta uma forte dependência de ervas e especiarias. Na Índia, dá-se o nome de “Vindaloo” ao caril picante de Goa. Já o famoso prato “Chicken 65” diz-se que é feito com 65 malaguetas. Já no Butão, uma das principais iguarias é o “Ema datshi”. É considerado o prato nacional do país, sendo geralmente servido na forma de um caldo acompanhado de arroz. Ema datshi é um termo em dzongkha (língua oficial do Butão) formado por ema, que significa chili ou pimenta, e datshi, um tipo de queijo típico do Butão. Basicamente, este prato é confecionado com uma mistura de várias pimentas, cultivadas em grande escala pelos habitantes locais, e datshi.
RESTAURANTES POR CÁ
Em Lisboa, são muitos os restaurantes que o podem deixar de boca a arder. Algumas destas sugestões passam pelo restaurante indiano Zaafran (Estefânia), onde pode provar, entre muitas outras opções, chamuças, pastéis indianos, variadas versões de caril e kebab.
Quem gosta de cozinha asiática, o restaurante Miss Jappa pode ser uma sugestão. Situado no Príncipe Real, a cozinha é comandada pela chefe Anna Lins, e tem na carta um prato destinado aos fãs do picante. Chama-se “Roleta russa”, um prato com seis gunkans, que se podem rodar na mesa. No centro está o copo de sake, destinado a quem comer o gunkan surpresa, com malagueta.
O restaurante O Cantinho do Azis (Mouraria) aposta na cozinha moçambicana com influência indiana, onde pode provar caril de camarão, frango à zambeziana e muitos outros pratos populares. E se gosta mesmo de picante não deixe de temperar o seu prato com a verdadeira pérola do Índico, o “sacaninha”, um must para os apreciadores mais exigentes.
A gastronomia chinesa, mais especificamente a cantonesa, é a particularidade do restaurante Dinastia Tang (Marvila). Há “Dim sum”, “Raiz de lótus com mel”, “Línguas de pato”, “Frango à Sichuan” ou “Caranguejo salteado com cebolinho”, entre outras opções.
AS 10 + FORTES
Imagine que há uma escala para medir a intensidade das pimentas e malaguetas, através dos capsaicinoides que nelas existem e que nos fazem arder a boca e encher os olhos de lágrimas com o sensação de calor. Não imagine mais. A escala é real, chama-se Scoville.
1 CAROLINA REAPER
No primeiro lugar, de acordo com o site “Pepperhead”, com o título de pimenta mais picante de todas as pimentas, está a carolina reaper. Atinge 2,2 milhões de unidades SHU. A pimenta comum varia entre 100 e 500 SHU.
2 TRINIDAD MORUGA SCORPION
Espécie rara e identificada há pouco tempo, esta malagueta originária de Trinidad & Tobago atinge cerca de 2 milhões de SHU.
3 POT DOUGLAH
Os especialistas garantem que de todas as superpicantes, a 7 pot é a mais saborosa. É também a única que não tem a cor vermelha. Na escala, surge com 1,8 milhões de SHU.
4 POT PRIMO
Pequena, tão vermelha como rugosa e com um caule comprido. Eis a quarta classificada da lista. Nível de SHU? 1,4 milhões.
5 TRINIDAD SCORPION ‘BUTCH T’
Exemplar australiano cujo caule não só se assemelha à cauda de um escorpião como o efeito que produz ao ser trincado não anda muito longe da mordidela deste animal. Antigo recordista mundial, tem marca de 1,4 milhões SHU.
6 NAGA VIPER
Resultado de muitos cruzamentos de plantas, com selo britânico, a naga viper ronda os 1,3 milhões SHU.
7 GHOST PEPPER (BHUT JOLOKIA)
É a estrela da companhia. Como conta o site “Pepperhead”, tornou-se famosa há uns anos quando se tornou moda na internet ingerir pimentas inteiras. Foi também a primeira a atingir 1 milhão de SHU. Anda longe do topo, desde então, mas é um verdadeiro clássico.
8 POT BARRACKPORE
Tem o mérito de conseguir o valor certo de 1 milhão SHU. De resto, é em tudo parecida com as suas primas também de Trinidad & Tobago.
9 POT RED (GIGANTE)
Idem, idem, aspas, aspas. Mas em tamanho XL.
10 RED SAVINA HABANERO
Mais um clássico do passado, que se mantém tão picante, saboroso e atual. Fica-se pelos 500 SHU — o que para algumas pessoas no mundo é pouco. Para a maioria, talvez seja demasiado.
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